Como João e Maria

Ela esqueceu um livro em minha mão. Didático de português.
Talvez tenha sido a tensão do nosso primeiro beijo – O silencio do lugar que permitia ouvi-la respirar enquanto sentia o sabor morango do seu batom. Quando percebeu, já estava longe, e sem o livro. Encontrei-o mais tarde em minha mochila, enquanto retirava as embalagens de bombons que consumia durante o dia.
Uma semana depois, naquela tarde chuvosa de domingo, liguei para a dona do livro.
...

- Encontrei seu livro.

- Puxa, achei que havia perdido. Estou precisando dele.

- Estou te esperando na pracinha ás 18hr para te devolver, passa lá.

A garota era incrível. Seus beijos de sabores sortidos eram sempre uma surpresa para mim e seus abraços apertados me paralisavam ali naquele lugar onde nos encontramos mais vezes, com certeza ela era diferente de qualquer uma que havia conhecido, mas havia algo mais que isso.
Era a primeira vez que pensei em esquecer a outras garotas.
Era a primeira vez que pensei em namorar.
Ainda naquela noite de domingo, novamente encontrei um livro em minha mochila. A menina que roubava livros. Foi então que tive uma epifania:

- Estamos brincando de João e Maria.



: )

Ela deixava migalhas em forma de livros para encontrar o caminho de volta, mas nessa nossa versão particular da historia, um se apaixonaria pelo outro.
Duas semanas se passaram, tempo o bastante para minha Maria imaginar que eu pudesse não ligar mais. Nesse meio tempo sai com outra garota, Uma baixinha de cabelos negros que conheci em uma biblioteca a algum tempo atrás. Ia sair com uma outra, mas Maria ligou.

- Acho que esqueci um livro com você. Que cabeça a minha... Posso passar ai para pega-lo de volta?

Ela passou. A tarde passou. A chuva passou. Nós não passamos. Ficamos ali abraçados, olhando as pessoas passarem e ouvindo as canções que cantávamos juntos às vezes.
No dia seguinte, entre embalagens de bombons, lá esta As Crônicas de Nárnia.

- Oi, Vai fazer o que hoje?

- Nada

- Vem na pracinha.

Ela chegou linda como sempre, seu cabelo preso dava a ela um ar intelectual e sedutor ao mesmo tempo. Assim como eu, estava com saudade. Não parávamos de nos beijar por um minuto, beijos que hoje tinham o mesmo sabor do primeiro. Aquela garota que ali estava sorrindo nos meus braços haveria de ser minha.

- Estive pensando.

- Em quê? – ela perguntou, fechando sua pequena mão na minha.

- Nisso. Em como nossas mãos se encaixam.

- Besta. A gente se encaixa em tudo.

- Namora comigo?

Ela deu um sorriso redondo e com um beijo disse “sim”.
O primeiro beijo como minha namorada.
O ultimo também.
Quando entreguei o livro a ela, Maria desmanchou o sorriso, somente disse “Não é meu”, foi embora e nunca mais retornou.

 Deve ter perdido o caminho de volta


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Acharam o fim da página... Uma salva de palmas para Sherlock Holmes, nosso mais paciente e ilustre leitor!